Ser Criança não significa ter Infância Coluna Questão de Opinião

Por Gi Barbosa Carvalho

O tempo passou e seria natural que evoluíssemos, como de fato aconteceu em algumas áreas.
Perguntando-me sobre o que é infância e se realmente nossas crianças desfrutam desse direito me parece que fui transportada a tempos remotos onde elas eram vistas como adultos em miniatura. Era como se criança não tivesse suas necessidades especiais, não tivesse direito a um atendimento diferenciado. Parece mesmo que criança tinha nascido para receber treinamento de como ser adulto.
Hoje, tudo mudou. Dizem. Mas mudou em que sentido?
A criança tem seus direitos, a criança tem proteção, a criança é tratada como criança.
Tenho que discordar, com imenso pesar, mas tenho que discordar.
Me parece que a criança continua reproduzindo o mundo adulto, continua sendo vista da mesma forma. A criança está recebendo um treinamento para ser adulto. O que vemos é apenas uma forma diferente de fazer isso.
A criança, aquela que deve ter seu direito à infância garantido se vê conduzida por pais, mídia, sociedade e até escola à reprodução da vida e malícia de adultos.
Recentemente em um evento escolar algumas crianças entraram vestidinhas (como crianças) e começaram uma coreografia muito linda onde se falava de amor, de valorização, de como elas e os seres humanos são especiais. O público olhou e aplaudiu como se faz quando se quer fazer um “social”. Seguido desse pequeno grupo entram outras crianças com roupas de bailarinos do grupo “É O TCHAN” começam uma coreografia do grupo Psirico ( Mulher Brasileira é toda boa) e o público aplaude efusivamente. Escutam se assobios… Elas saem radiante. Sensualmente vestidas, fazendo movimentos ritmados que simulam o ato sexual e aplaudidas , incentivadas a reproduzir o padrão vigente na mídia e na sociedade brasileira.
Não sei onde estava a equipe escolar para permitir em um evento com crianças tão pequenas ( 6 a 8 anos) a reprodução do mundo adulto na sua forma mais depravada, mais maliciosa, mais tendenciosa que se pode enxergar. A tal erotização da figura da criança que devia ser combatida pela escola para que a infância fosse preservada foi deixada de lado e está sendo deixada de lado por muitas instituições e muitas famílias.
Assiti ao vídeo documentário “A Invenção da Infância” e chorei, não havia meio de não chorar
Séculos se passaram e não há respeito pelo universo infantil por parte dos adultos.
Ainda tratamos crianças como adultos em miniatura.
Lembrei-me da frase de Rousseau:

A natureza quer que as crianças sejam crianças antes de serem
homens. Se queremos perturbar essa ordem, produziremos frutos precoces,
sem maturidade nem sabor e que tardarão a apodrecer; teremos jovens
doutores e velhas crianças. A infância tem maneiras de ver, de pensar,
de sentir que lhe são próprias; nada há de mais insensato que querer
substituí-las pelas nossas[…]
(ROUSSEAU apud ELIAS, 2000, p. 54).

Não sei quanto a vocês, mas eu luto para que meus filhos e meus alunos sejam crianças e tenham infância. A hora de adolescer vai chegar, a hora de ser adulto vai chegar, mas por enquanto eles são apenas crianças e não vejo motivos para vestí-los como adultos, inserí-los no meio adulto, maquiá-los como adultos quando minha função enquanto mãe e professora é zelar para que tenham direito à infância.

Uma frase em especial chamou-me atenção nesse vídeo…

Ser Criança não significa ter Infância Coluna Questão de Opinião

“Ser Criança não significa ter Infância”

Fico imensamente triste ao perceber a realidade chocante que vivemos. O vídeo tem mais de uma década e é tremendamente atual.
Peço aos professores que lutem pela infância, me ajudem, ajudem a sociedade brasileira.
Vejam o vídeo… Ele fala imensamente melhor que eu.

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