O conto “Branca de Neve” contado pelos irmãos Grimm guarda algumas diferenças das muitas versões que se popularizaram antes e após a compilação feita por eles em seu livro.
No início da história contada pelos Grimm, uma rainha costurava, no inverno, ao lado de uma janela de negro ébano. Ao lançar o olhar para a neve, picou o dedo com a agulha, e três gotas de sangue pingaram sobre a neve, o que a deixou admirada e a fez pensar que, se tivesse uma filha, gostaria que fosse “alva como a neve, rubra como o sangue e negra como o ébano da janela”.
Não tardou e a princesa teve uma filha de descrições idênticas ao seu pedido: branca como a neve, com os cabelos negros como o ébano e os lábios vermelhos como o sangue. Mas, tão logo sua filha veio ao mundo, a rainha morreu. O pai deu à filha o nome de “Branca de Neve”, e logo tornou a casar, com uma mulher arrogante e vaidosa, possuidora de um espelho mágico que só falava a verdade. Constantemente a rainha consultava seu espelho, perguntando quem era a mais bela do mundo, ao que ele sempre respondia: “Senhora Rainha, vós sois a mais bela”. Mas Branca de Neve cresceu e, um dia, sua madrasta perguntou: “Quem é a mais bela de todas?”, e o espelho não tardou a dizer: “Você é bela, rainha, isso é verdade, mas Branca de Neve possui mais beleza.”
Cheia de inveja, a Rainha contratou um caçador e ordenou que matasse Branca de Neve e lhe trouxesse seu coração como prova, na esperança de voltar a ser a mais bela. O caçador ficou inseguro, mas aceitou o trabalho. Pronto para matar a bela princesa, o caçador desistiu ao ver que ela era a moça mais bela que já havia encontrado, e rapidamente a mandou fugir e se esconder na floresta; para enganar a rainha, entregou a ela o coração de um jovem veado. A rainha assou o coração e o comeu, acreditando ser de Branca de Neve, mas, ao consultar o espelho mágico, ele continuou a dizer que Branca de Neve era a mais bela.
Branca de Neve fugiu pela floresta, até encontrar uma casinha e, ao entrar, descobriu que lá moravam sete anões. Como era muito gentil, limpou toda a casa e, cansada pelo esforço que fez, adormeceu na cama dos anões. À noite, ao chegarem, os anões levaram um susto, mas logo se alcamaram ao perceber que era apenas uma bela moça, e que a mesma tinha arrumado toda a casa. Como agradecimento eles cederam sua casa como esconderijo para Branca de Neve, mas na condição de ela continuar deixando-a tão limpa e agradável.
A rainha não tardou a descobrir o esconderijo de Branca de Neve e resolveu matá-la; disfarçada em mascate, foi até a casa dos anõezinhos. Chegando lá, ofereceu um laço de fita a Branca de Neve, que aceitou. A rainha ofereceu ajuda para amarrar o laço em volta da cintura de Branca de Neve e, ao fazê-lo, apertou-o com tanta força que Branca de Neve desmaiou. Quando os anões chegaram e viram Branca de Neve sufocada pelo laço de fita, rapidamente o cortaram e ela voltou a respirar.
A rainha novamente descobriu que Branca de Neve não estava morta, e voltou a se disfarçar, mas desta vez como uma velha senhora que vendia escovas de cabelo, na verdade envenenadas. Ao dar a primeira escovada, Branca de Neve caiu no chão, desmaida. Quando os anões chegaram e a viram, rapidamente retiraram a escova de seus cabelos e ela acordou.
A rainha, já enlouquecida de fúria, decidiu usar outro método: uma maçã enfeitiçada. Dessa vez disfarçou-se de fazendeira e ofereceu uma maçã; Branca de Neve ficou em dúvida, mas a Rainha cortou a maçã ao meio e comeu a parte que não estava enfeitiçada, Branca de Neve aceitou e comeu o outro pedaço, enfeitiçado. Ele inchou dentro da garganta de Branca de Neve e esta ficou sem ar. Quando os anões chegaram e viram Branca de Neve no chão, tentaram ajudá-la, mas não sabiam o que causara tudo aquilo, e pensaram que estava morta. Por achá-la tão linda, os anões não tiveram coragem de enterrá-la, e a puseram em um caixão de vidro.
Certo dia, um príncipe que andava pelas redondezas avistou o caixão de vidro, e dentro a bela donzela. Ficou tão apaixonado, que perguntou aos anões se podia levá-la para seu castelo, ao que eles aceitaram e os servos do príncipe a colocaram na carruagem. No caminho, a carruagem tropeçou, e no pulo que deu, o pedaço de maçã que estava na garganta de Branca de Neve saiu, e ela pôde novamente respirar, abriu os olhos e levantou a tampa do caixão.
O príncipe a pediu em casamento, e convidou para a festa a rainha má, que compareceu, morrendo de inveja. Como castigo, ao recuar para sair do palácio, acabou tropeçando num par de botas de ferro que estavam aquecidas. As botas fixaram-se na rainha e a obrigaram a dançar; ela dançou e dançou até, finalmente, cair morta.
Relata a história da princesa Layza; sua mãe estava acariciando uma rosa até que furou seu dedo e disse que queria uma filha com a pele branca feito a neve, cabelos negros como o ébano e os lábios vermelhos, da mesma cor daquele sangue. Passado algum tempo, o rei enviuvou e voltou a casar com uma mulher belíssima, mas extremamente cruel e, além disso, feiticeira, a qual desde o primeiro dia tratou muito mal a menina.
Quando o rei morreu, a vilã, vendo que a Branca de Neve possuiria uma beleza que excederia a sua, obrigou-a a fazer todo o trabalho no castelo. A rainha tinha um espelho mágico e todos os dias lhe perguntava quem era a mulher mais bela do reino. Todas as vezes o espelho respondia que era ela. Um dia, ao fazer a habitual pergunta, o espelho respondeu que a rainha era bela, mas que Branca de Neve era mais bela. Um dia, quando estava trabalhando, foi pegar água do poço para banhar-se, e o seu cantarolar chamou a atenção de um príncipe que caçava pelos arredores; ele foi ao seu encontro. A vilã, sabendo desse encontro, não se conteve e expulsou Branca de Neve. A megera mandou um caçador ir ao bosque, e lá matar Branca de Neve. Como prova de que havia cumprido este ato, ordenou-lhe que trouxesse o coração da menina. Mas, o caçador teve pena da princesa e lhe poupou a vida, ordenando-lhe que fugisse. Para comprovar que havia obedecido às ordens da madrasta, entregou-lhe o coração de um javali.
Branca de Neve correu bosque adentro; quando estava muito cansada, adormeceu profundamente numa clareira. No dia seguinte, quando acordou, estava rodeada pelos pequenos animais da floresta, que a levaram até uma casinha no centro do bosque. Dentro, tudo era pequeno: mesas, cadeiras, camas. Por todo o lado reinava a desordem e tudo estava muito sujo. Ajudada pelos animaizinhos, deixou a casa toda arrumada e depois foi dormir.
Ao anoitecer, chegaram os donos da casa. Eram os sete anõezinhos, voltando da mina de diamantes onde trabalhavam. Quando a princesinha acordou, eles se apresentaram: Soneca, Dengoso, Dunga (o único que não tinha barbas e não falava), Feliz, Atchim, Mestre e Zangado. Ao serem informados dos problemas da princesa, eles resolveram tomar conta dela e a deixaram ficar.
A malvada rainha não tardou, por meio do seu espelho mágico, a saber que Branca de Neve estava viva e continuava a ser a mulher mais bonita do reino. Decidiu, então, acabar pessoalmente com a vida da princesinha. Disfarçou-se de pobre-velhinha-indefesa-feiosa-e-com-cara-torta, e primeiro tentou matá-la com um pente envenenado, mas na hora chegaram os anões e a afugentaram. Então envenenou uma maçã e foi até a casinha dos anões. Quando eles saíram para trabalhar, ofereceu a maçã envenenada e Branca de Neve, que a mordeu, caiu adormecida.
Quando os anõezinhos regressaram, pensaram que Branca de Neve tivesse morrido. De tão linda, eles não tiveram coragem de enterrá-la. Então fizeram um caixão de vidro e o enfeitaram com flores. Estavam junto à princesa adormecida, quando por ali passou o príncipe do reino vizinho, que há muito tempo a procurava. Ao ver a bela Branca de Neve deitada no seu leito, aproximou-se dela e lhe deu um beijo de amor. Este beijo quebrou o feitiço, que fez a princesa cuspir a maçã e despertar. O príncipe pediu à Branca de Neve que casasse com ele. E o feliz casal encaminhou-se para o palácio do príncipe e foram felizes para sempre.