Projeto Carta Pedagógica para Educação Infantil
Ao tomar-se a escola
como lócus privilegiado do saber sistematizado, afastamos a mesma do cotidiano,
não significando que este será ignorado. O dia-a-dia das crianças e toda
bagagem oriunda deste constituir-se-ão apenas em pontos de partida a serem
superados. A escola passa a ser um momento de suspensão da vida cotidiana, para
isso, artificializa-se, apresenta-se como um ambiente criado, planejado pelos
adultos que intencionalmente educam as crianças em seu interior. O principal
direito a ser respeitado nessa instituição é o direito ao conhecimento. Direito
esse propulsor do desenvolvimento infantil. (ARCE E MARTINS, 2010, p. 31).
que o educador, enquanto sujeito social atribui à sua prática cotidiana todo
conhecimento adquirido em suas vivências e que nos tornamos referência de
adulto para os nossos alunos, cabe nesse documento descrever resumidamente
minha trajetória profissional. Formada pedagoga em 2011 na faculdade Anhanguera
em Campinas, minha vocação profissional foi descoberta pouco antes do momento
acadêmico; em uma fase de poucas oportunidades profissionais, me vi ingressar
como agente de educação infantil na rede municipal de campinas, em um cargo
temporário em 2007.
educação infantil foi um momento novo em minha vida, um momento de descobertas
e desafios, quanto mais eu observava e experimentava, mais me encantava com as
imensas possibilidades, em como os resultados surgiam após muito trabalho e
dedicação; trabalhar com crianças pequenas trouxe uma satisfação nunca sentida
com outra tarefa, eu não me realizaria em outra profissão. Sendo assim, veio
minha escalada em busca do cargo que eu almejava, foram seis anos atuando como
agente de educação infantil, onde tive oportunidade de trabalhar com excelentes
profissionais, conhecer diversas maneiras de atuar, observar o erro e o acerto
e participar ativamente da formação educacional, mesmo sem o cargo docente,
comecei construir minha própria concepção de criança, de infância e de
educação.
a graduação vem a sistematização e embasamento de toda prática já observada e
vivenciada, acreditando que a formação docente precisa ser contínua e
frequente, vislumbro muitos desafios à frente. Assumindo o cargo de PEBI no mês
de Maio de 2013, atuei com a sala de AG3 D, iniciando assim minha jornada
docente. Em 2014 minha escolha por uma sala com crianças menores não foi ao
acaso, estou tendo oportunidade de estar onde tudo começou. Atuar onde a cerca
de sete anos atrás, observei crianças se desenvolverem, aprenderem, se
divertirem e serem muito felizes; agora, após muitos desafios e capacitação,
estou onde quero estar, podendo fazer a diferença ativamente.
necessário observar os alunos por duas semanas e caracterizar as impressões a
respeito da turma, integrando a visão de todas as educadoras que compõem a
equipe, sendo elas: Maria Aparecida, professora TJE, Clarissa, professora
adjunta que estão compondo equipe, Rachel e Tatiana, agentes de educação
infantil.
crianças chegaram à escola mostrando-se bastante retraídas, com dificuldade em
deixar a família e relutantes em entrar na sala, que para muitos até então ambiente
desconhecido. Houve um período de adaptação gradual, onde as crianças puderam
se integrar com a nova rotina de forma agradável, sem traumas; hoje já brincam
em grupo, interagem com o ambiente, cada vez mais criam vínculos afetivos e
participam ativamente da rotina proposta, exceto uma criança que ainda chora
muito e precisa de uma atenção especial.
crianças que vieram do berçário e outras que frequentam a escola pela primeira
vez este ano; no momento são 26 alunos matriculados, com idades:
sete meses e 1 ano dez meses
completados 02 anos
08 crianças entre 2 anos e dois
meses e 02 anos e sete meses
salientar a idade das crianças para evidenciar nosso primeiro e maior desafio, relacionar
o cuidar com o educar. Incluir práticas pedagógicas aos momentos de higiene se
faz extremamente necessário, já que grande maioria das crianças faz uso de
fraldas descartáveis, e os que utilizam o banheiro ainda precisam de auxilio. Já
podemos notar um avanço nesse ponto, três crianças já demonstraram certo
controle do esfíncter e em consonância com a família, não utilizarão mais
fralda durante o dia. Sendo assim, faz parte do nosso planejamento pedagógico a
atenta observação neste sentido, com intencionalidade do uso adequado do
banheiro, respeitando o momento e as necessidades de cada criança; lembrando
que é imprescindível a união família x escola, para que o processo de retirada
de fraldas funcione, para tanto serão utilizados o caderno de recados e as reuniões
de família e educadores para trocas de informações e observações que sejam
necessárias.
oral, podemos pontuar as diferentes fases que se encontram as crianças da
turma, uns não se expressam verbalmente em momento algum e exceto a única
criança de 3 anos completos que se comunica de forma a expressar suas idéias, a
maioria ainda utiliza muitos gestos para indicar seus desejos e angústias.
que diz respeito à cultura corporal, pude notar que as crianças têm grandes
habilidades, gostam de testar seus limites, brincar e explorar o ambiente. Grande
maioria tem um bom reconhecimento das partes do corpo, sabendo identificá-las. Ainda
há necessidade de trabalhar a expressão corporal frente ao bom uso do corpo em
imitações e situações de faz-de-conta, já quando estimulados com música,
demonstram muita desenvoltura com dança.
brincadeiras que a turma mais gosta são: bonecas, bolsas, caminhões grandes, ferramentas,
bolas e animais, mas realmente se encantam com o parque da escola, buscam
explorar todos os espaços e notamos as crianças pequenas imitando os maiores na
utilização dos escorregadores, balanças, casinha do Tarzan e demais brinquedos;
o que nos primeiros dias foi momento observação e sondagem hoje, o parque já é
muito aproveitado pelas crianças pequenas.
um nome para nossa turma. Foram lidas várias histórias e manuseados vários
livros, o mais apreciado identificou nossa sala como “Turma da chapeuzinho
amarelo”, notamos que a superação do medo despertou interesse e admiração nas
crianças. Esse trabalho com a eleição do nome da turma tem o propósito de criar
um sentimento de grupo, já que todos juntos escolhem algo que vai identificar
todos que ali convivem diariamente; crianças pequenas tendem a individualidade
e esse momento na escola é o ideal para desenvolver as interações sociais.
fazer uma sondagem inicial, percebi, através da hora da contagem das crianças,
contação de histórias e ao guardar brinquedos que alguns alunos já reconhecem
as cores, números, formas geométricas o que aguça a curiosidade nos demais,
percebi que poderemos trabalhar imensas possibilidades com os saberes
socialmente construídos que as próprias crianças pontuam.
partir destes conhecimentos, buscarei trabalhar nas crianças uma ampliação de
suas hipóteses de conhecimento de mundo, através de suas expressões nas mais
variadas formas possíveis, lembrando que meu intuito principal é trabalhar com
o que as crianças querem conhecer, ou seja, o planejamento abaixo estará em
constante reformulação.
intencionalidades e conhecimentos a serem explorados
primeiro momento, o planejamento possuirá objetivos traçados a partir do
reconhecimento das necessidades da turma em consonância com os propósitos
pedagógicos da educação infantil e, mais especificamente, a partir do projeto
pedagógico da escola. É importante deixar claro as convicções de que a criança
é um ser fundamentalmente social, o que significa que sua inserção e interação
no espaço escolar e com as pessoas dele são de suma importância para a relação
de ensino-aprendizagem. Assim, proporcionar situações de interação mediadas
pelo professor num ambiente estimulador é essencial para o trabalho. Os
objetivos e intencionalidades educativas estão fundamentados no Referencial
Curricular Nacional para a educação infantil (BRASIL, 1998), cujos preceitos
abrangem:
O respeito à
dignidade e aos direitos das crianças, consideradas nas suas diferenças
individuais, sociais, econômicas, culturais, étnicas, religiosas etc.;
O direito das
crianças a brincar, como forma particular de expressão, pensamento, interação e
comunicação infantil;
O acesso das
crianças aos bens socioculturais disponíveis, ampliando o desenvolvimento das
capacidades relativas à expressão, à comunicação, à interação social, ao
pensamento, à ética e à estética;
A socialização das
crianças por meio de sua participação e inserção nas mais diversificadas
práticas sociais, sem discriminação de espécie alguma;
O atendimento aos
cuidados essenciais associados à sobrevivência e ao desenvolvimento de sua
identidade. (BRASIL, 1998, p. 13).
esses fatores como base da prática pedagógica intencional, ação típica de um
profissional formado para atuar na educação infantil, uma vez que se trata de
uma etapa educativa que demanda saberes docentes específicos e não mero “dom”,
acredito que a prática visa o desenvolvimento integral da criança, por meio do
ensino dos conteúdos historicamente acumulados pelo homem. Nesse sentido:
A
criança, portanto, é compreendida como um ser em construção, em processo de
humanização, pois a natureza humana é fruto de nossa história social e não de
processos psicogenéticos, ela não está dada no ato do nascimento biológico.
Apropriar-se da cultura acumulada pela humanidade é um passo fundamental para a
criança tornar-se humana, para o seu nascimento como ser social, como ser
humano. (ARCE E MARTINS, 2010, p. 30-31).
planejados para serem trabalhados nesse ano letivo:
trabalhar a formação da identidade e de autonomia, conforme RCNEI (Brasil,
1998) “A identidade é um conceito do qual
faz parte a ideia de distinção, de uma marca de diferença entre as pessoas
[…]”. Trabalharemos o conhecimento de si próprio e do outro, com suas
semelhanças e diferenças, quando prevalece sua vontade e o do outro e
reconhecimentos dos seus pertences e respeito com os dos colegas. Trabalharemos
com uso de fotos e crachás, fazendo a chamada participativa e outras atividades
de reconhecer fotos e letras do seu nome e do outro, sempre buscando cooperação
e auxílio dos colegas mais experientes. A utilização de outras marcas como
adesivos, desenhos de própria produção ou outras artes poderão ser utilizadas
para identificar os objetos pessoais utilizados na escola. É de suma
importância tratar todas as crianças e as colegas de trabalho pelo nome, para
que a criança identifique os pares e adultos, cada um com sua individualidade.
O momento diário da roda também será proveitoso nesse ponto, utilizando músicas
que citem nome das crianças, partes do corpo, ou que precisem se manifestar
individualmente em algum momento; atividades que ressaltam gostos pessoais,
características físicas e emocionais de cada um, família, hábitos e tradições
culturais, bem como preferências coletivas de brincadeiras, comidas, cores, etc.,
farão parte do nosso trabalho para atingir o objetivo que é o desenvolvimento
integral da criança.
pontuaremos o uso dos espaços e objetos comuns e a importância de compartilhar serão
trabalhados nestes conceitos, através do intenso diálogo, interação com as demais
salas e o uso da rotina como caracterização da nossa turma, pois são os nosso
horários, e cada turma tem o seu. Questões relacionadas à higiene, saúde e
alimentação também serão trabalhados cotidianamente em meio à rotina, por meio
da exploração desses temas despertando para a autonomia na higiene no ato de se
limpar, lavar as mãos, limpar nariz e boca, cuidado com seus pertences,
importância de bons hábitos alimentares, incentivo a experimentar diferentes
tipos de alimentos. É pretendido abordar e possibilitar a construção de novas
hipóteses com relação à noção de esquema corporal, reconhecimento e nomeação de
partes do corpo por meio de brincadeiras, músicas, exploração do espelho
exaltando sua auto-imagem, diferentes posturas, gestos e expressões. Outros
conceitos que serão trabalhados serão a passagem do tempo (dia, noite, estações
do ano) por meio do uso de calendário e marcação do tempo diário com placas que
indicam a rotina diária; reconhecimento de diferentes paisagens (campo e
cidade); valorização e preservação do meio ambiente e de recursos naturais,
através de ações simples como jogar lixo no lixo, não desperdiçar;
classificação de diferentes animais e seu habitat; reconhecimento de meios de
transporte e de comunicação; valorização da família, meio ambiente e
comemorações que revelam nossa cultura por meio de eventos abertos ou não à
comunidade a serem promovidos pela escola. Tais conceitos serão explorados ao
longo do ano utilizando diferentes materiais e fontes de informação e de
pesquisa.
pretendido explorar as múltiplas linguagens da criança: oral, escrita, musical,
corporal e artes visuais. Nas linguagens oral e escrita serão trabalhados a
oralidade por meio de situações em que a criança precise se comunicar,
expressar opiniões, ouvir e contar histórias, ouvir e cantar músicas,
participar ativamente de votações na turma para decidir consensualmente algo
que atinja o coletivo. Tais objetivos serão alcançados em momentos de roda de
conversa, de leitura e atividades dirigidas. Também será dada importância aos
momentos de registros das crianças (mesmo os de escrita não convencional) ou da
professora como escriba, leitura de crachás, reconhecimento de letras com o
intuito de incitar na criança a importância da leitura e escrita em suas vidas.
Para isso serão trabalhados diversos gêneros textuais e possibilitados momentos
de exploração desses diversos tipos de textos como jornais, revistas, bilhetes,
cartas, livros, poesias, gibis, enfim, visando o contato, o despertar do
interesse e a inserção no mundo letrado. Nas linguagens musicais e corporais
serão explorados os sentidos, ritmos, melodias, distinguindo diferentes eventos
sonoros e oferecendo acesso a um repertório musical variado incentivando o
gosto e o interesse por diversos gêneros musicais desde um estilo clássico até
o popular. Tais conteúdos serão trabalhados por meio de atividades lúdicas que
envolvam a expressão do sentimento evocado em cada evento sonoro, os ritmos
lentos e rápidos, a dança como expressão livre ou coreografada, exploração do
silêncio e dos sons de diferentes instrumentos musicais. Nas artes visuais é
pretendido possibilitar o contato com obras artísticas, materiais diversos para
a produção própria da criança construindo uma boa relação com suas próprias
produções artísticas e as de seus colegas. Com isso, incita-se o interesse
artístico-cultural por meios de comunicação e expressão diversos. Para tanto é
preciso explorar diferentes materiais como sulfite, cartolina, giz de cera,
canetinha, materiais diversos para colagem, pintura, entre outros para
verificarem os diferentes resultados obtidos com diferentes instrumentos. As
produções tanto individuais quanto coletivas despertam para o belo e a
expressão artística que envolve sentimentos, valores, opiniões, sendo
importante o ato de expor e discutir em grupo cada produção realizada.
lógico-matemáticas será explorada a importância da matemática em nossa vida
por meio de situações cotidianas e em atividades dirigidas. A contagem, as
formas dos objetos que nos cercam, e outros conceitos do dia-a-dia serão
trabalhados ao longo do ano letivo em meio à rotina diária das crianças como
contagem de quantas crianças que estão presentes ou ausentes, em alguma
brincadeira, bem como em integração com outros conteúdos de outras áreas de
forma lúdica. Sequência numérica, lateralidade, grandezas, figuras geométricas,
resolução de situações-problemas, tempo e espaço, larguras, espessuras,
posições de dentro ou fora são aspectos que serão trabalhados cotidianamente
e/ou de forma mais pontual em alguma atividade específica.
concordo com Elkonin (1998) de que se trata de uma atividade essencial na
infância, uma vez que envolvem muitos aspectos do desenvolvimento físico,
cognitivo e psicológico. Por meio do ato de brincar espera-se oportunizar
situações em que as crianças se expressem livremente, desenvolvendo a
criatividade, oralidade, concentração, solidariedade, partilha de brinquedos,
apreensão de papeis sociais em situações reais ou hipotéticas. Para tanto serão
utilizados diferentes brinquedos, espaços, brincadeiras de roda, faz-de-conta,
parque, jogos com regras e etc.
planejados, a serem trabalhados nas áreas destacadas acima, estão aqui
elencados pela convicção de que são importantes para o desenvolvimento integral
das crianças nessa fase da educação infantil.
A. MARTINS, L. M. (org). Quem tem medo de
ensinar na educação infantil?: em defesa do ato de ensinar. Campinas, SP:
Editora Alínea, 2010. 2ª edição.
Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 22 de dezembro de 1996.
Brasília/DF: MEC, 1996.
Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental.
Brasília:MEC/SEF, 1998.
1998.
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