Isso pra mim não tem importância alguma , pelo contrário nunca causou em mim motivo de tristeza ou mesmo de rejeição o que convenhamos é meio estranho, mas é verdade.
Recordo-me certa tarde em que meu pai me visitava e disse pra mim:
– Minha filha, me desculpe por que eu não pude dar nunca o que você precisava.
Pensei comigo:
– Eu não precisava de nada mais que algumas visitas e isso não custa dinheiro.
Mas isso apenas pensei…
Ele me prosseguiu:
– Me perdõe por não ter estado perto quando você precisou e não ter te dado nada todos esses anos.
E já havia se passado 19 anos ( um tempo valioso).
Olhei pra ele e então disse:
– O senhor me deu a vida e isso é o bastante.
Ele ficou feliz eu também, afinal fiz alguém feliz.
Todos temos um jeito especial de ser e eu me pareço muito com meu pai em especial pelo temperamento.
Ele não é má pessoa, mas é fato que nunca pode ser um bom pai pra a turma de irmãos que tenho .
Alguns nunca tive a oportunidade de conhecer.
Contam se 15 ou 20 eu não sei bem…
Sei que eu sempre fui a garotinha que não tinha ninguém pra oferecer o cartão do dia dos pais e isso ( por ter o temperamento igual ao de meu pai) pouco me importava. Pra mim era só mais uma tarefa a ser feita na escola.
Mas para boa parte das crianças isso tem muita importância e esse é o motivo pelo qual o projeto para o dia dos pais toma tão pouco tempo e é deixado meio de lado pelas escolas, na verdade nós queremos passar por cima do segundo domingo de agosto como um trator de esteira, pois não estamos aptos a lidar com as dores de nossos alunos abandonados, maltratados e deixados de lado diariamente pelo pai.
Lembra-me certa feita em que pedi que meus alunos entre 6 e 8 anos desenhassem uma mão e colocassem em cada dedo o nome de alguém a quem amasse muito.
Alguns pareciam seguir um mecanismo de anos anteriores escreviam por terem sido induzidos a isso, mas uma aluno me chamou atenção, pois escreveu o nome da mãe, da avó , de um colega, de um vizinho e sobrou um dedo q ele não conseguia preencher de forma alguma.
Eu então me aproximei e perguntei se ele não amava mais ninguém
e por que ele amava aquelas pessoas e ele me deu um motivo pra amar cada uma delas ao que eu sugeri…
– Escreve o nome de seu pai.
Não sei se foi uma boa ou uma péssima sugestão, pois ele me respondeu:
– Eu não gosto dele. Quando ele bebe bate na minha mãe.
Eu engoli em seco e tentei ali ser meio psicóloga, mas que explicação se pode dar àquilo que ele presenciou.
Prosseguiu:
– Ele deu um soco no rosto dela essa semana.
Ele não falava isso com tristeza nem com lágrimas nos olhos, mas com indiganação e alguns coleguinhas que acabaram por ouvir começaram a desabafar também e foi dificil controlar o choro de uma pequenina muito linda que a mãe colocava constantemente contra o pai ela sempre chorava e era muito carente e até então eu não sabia o motivo. Fique sabendo naquele dia.
Bem, aquela aula foi pra mim uma lição, como sempre os alunos nos ensinam coisas valiosas.
Como uma criança de 7 anos é incapaz de amar o mínimo de 5 pessoas e falar com tanto rancor de alguém que lhe deu a vida?
É triste, mas comum.
A cada dia a figura paterna é jogada as favas e a instituição chamada familia é tida como desnecessária.
Quando uma celebridade julga desnecessária a figura do pai e leva uma geração consigo vemos que tudo vai de mal a pior e a celebridade Xuxa que tanto colocamos nossos alunos em contato por também termos estado em contato com ela; fez isso ao olhar de muitos.
Me diriam os fãs ( e ninguém era mais fã que eu) que a menina tem um pai e que a Xuxa pode e argumentarei:
– Ela disse em rede nacional que teria uma filha (uma produção independente).Não preciso deixar de gostar dela por isso, mas é no mínimo inconsequente falar a um público infantil que a figura do pai não tem essa importância toda. Mas ela realmente é a Xuxa e pode se dar ao luxo o que ninguém imaginava era que muitos adolescente seguiram o mesmo rumo ( é um exemplo notável de uma amante das crianças) e ao hoje temos muitos avós cuidando de netos. Culpa da Xuxa?
De forma alguma, mas se você é referência deve dosar suas palavras e não justificar sua escolha fazendo muitos vê-la como modelo a ser seguido.
Produção independente …. Que termo desgraçado!
Eu não sou uma produção independente, mas não tive um pai presente , isso não me causou danos psicológicos, mas causa a muitos outros que tem um temperamento diferente do meu.
O que podemos fazer enquanto professores para mudar esse quadro e fazer com que o pai acompanhe seu filho na caminhada.
Estimulemos a figura paterna a que esteja a par da educação de seu filho e mostremos pra nossos pequeninos, mesmo aqueles que foram de alguma forma rejeitados pelos pais que futuramente ele terá uma familia e suas chances de fazer diferente serão imensas e o efeito bola de neve para a partir do momento em que quem não teve um pai passa a ser um pai exemplar, uma figura notável na vida de seu filho.
Há bons e maus pais, assim como há boas e más mães.
Tudo nasce na infância e nós enquanto professores não podemos estar imparciais diante disso.
Por que não trabalhar o dia dos pais com mais atenção?
Por ventura todas as crianças de nossa escola tem mães?
Muitas não são doadas a seus avós como se pais deles fossem?
O que fazemos quando uma criança está ferida?
Deixamos a ferida lá quieta pra que talvez melhore ou encha de bicho, ou passamos um bom remédio aquele que tem efeito e não paramos de fazer isso até que esteja curada?
Não negligenciemos este papel de educadores preocupados com o psicológico de nossos pequeninos, mas nos curemos junto com eles das feridas que nossos pais ( muitas vezes inconscientemente) produziram em nós dia após dia.
Por que comemorar o Dia Dos Pais?
Ora, por que há figuras essenciais em nossas vidas para que tenhamos equilibrio emocional em nossa jornada e o Pai seja na figura do avô , do pai adotivo, do irmão ou do pai biológico é uma delas.