Considero a letra cursiva, como parte do tesouro histórico de conhecimento da humanidade, faz parte de um arcabouço maior que vai além das “facilidades” de educar, que está ligado a outros elementos do caráter, como disciplina, persistência, dedicação etc.
Concordo que nem todo criança tem facilidade para lidar com a caligrafia de mão, mas muitas delas tem, e neste caso, em nome de defender aquelas que dificuldade, as outras que não tem dificuldade serão privadas do direito de fazer aquilo que fariam facilmente para ter um outro tipo de experiência.
Cada pessoa tem um tipo de traçado na escrita, alguns tem traço com cantos quadrados, estes se encaixam melhor na letra de caixa alta que tem seus cantos quadrados.
Mas quando se observa a crianças fazendo seus primeiros traços, já dá pra ver claramente, que muitas delas tem traços arredondados que se encaixam melhor na escrita de letra cursiva que tem seus traços arredondados.
Acredito que um dia ainda teremos um teste para classificar crianças com traços mais quadrados daquelas que tem traços mais arredondados para assim usar letra bastão com estas aquelas que tem traços quadrados e letra cursiva com aquelas que tem traços mais arredondados.
O que muito me preocupa neste ponto, é que parece que, em nome de “facilitar” a descoberta do saber, estamos ignorando e desprezando parte do conhecimento histórico e humano.
De qualquer modo deixo claro que não sou totalmente contra a utilização da letra bastão. Mas sou totalmente contra o óbito da letra cursiva, coisa inevitável, se olharmos apenas para a facilidade da execução da profissão de educar.
Abaixo transcrevo parte do documento ora discutido, e sei que a discussão ainda vai longe.
[…]”A educadora Francisca Paula Toledo Monteiro trabalha com alfabetização e letramento na Divisão de Educação Infantil e Complementar da Unicamp. É professora de crianças na educação complementar que estão em processo de alfabetização de seis a sete anos, num trabalho de educação não formal, mas voltado ao letramento e à alfabetização. Em seu mestrado, apresentado à Faculdade de Educação (FE), há alguns anos, ela abordou as diferenças e subjetividades na educação, tendo como foco o fracasso escolar. À época, ela questionou: de quem afinal é o fracasso? Francisca atua com alfabetização desde os 17 anos e se confessa uma apaixonada pelo assunto. Ela foi partícipe e se lembra muito de quando foi alfabetizada e garante que a alfabetização avançou muito. Hoje não encerra mais a concepção de que quem ensina é o professor e de quem aprende é o aluno. É preciso antes, salienta a professora, conhecer o mundo. A educadora discutiu longamente a sua experiência e relatou que a tendência atual é o desuso da letra cursiva, ou de mão, em favor da letra bastão, que está largamente distribuída no mundo: nos computadores, nosoutdoors, nas faixas, nos painéis, nos comunicados e na correspondência comercial. Em entrevista ao Portal Unicamp, Francisca comenta os desafios do professor e o importante papel da criança como protagonista no processo, como leitora e como coautora de sua própria história”.[…]
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