Eu sou professora e me dou ao luxo de ter esperança!

Eu considero uma honra ser professora, considero uma honra qualquer filho meu desejar ser professor… 
Precisamos de melhores condições de trabalho, precisamos de melhores salários e acima de tudo precisamos de entusiasmo pra continuar acreditando nas mudanças e lutando para que elas se tornem realidade. 
Dificuldades virão, mas não serei eu a pregar a desesperança …
Fico nas palavras de Paulo Freire e nelas permaneço

“quando lutamos, enquanto desesperançados ou desesperados, a nossa é uma luta suicida, é um corpo-a-corpo puramente vingativo.”

Vamos lutar sim, mas esperançosos.
Se algum de meus filhos decidir, sem pressão, tornar-se professor isso será considerado uma das maiores realizações de minha vida, não apenas por ser mãe, mas por considerar minha profissão digna, embora desvalorizada . 
Eu ainda sou professora e me dou ao luxo de ter esperança quando boa parte das pessoas desse país vive na apatia.
Eu ainda posso gritar sonoramente que nenhum salário pagaria o privilégio de auxiliar na formação de um cidadão.
O que sempre falo pra meus filhos é que dinheiro é sim importante, mas que quando se é vocacionado se encontra meios de lutar pela sua profissão com entusiasmo e contagiando positivamente outras pessoas.
Gosto de pensar que nenhum professor  realmente vocacionado consegue se desvincular totalmente da educação,pois sua alma está nela e isso independe do quanto consideram que vale seu trabalho ou do número de elogios que recebe em um dia. É bem mais que isso, é entrega, é amor, é desejo de continuar lutando…
Não estou em sala de aula no momento, mas não deixo de aprender com meus colegas, de socializar, de inventar e de com eles criar estratégias , não por que deseje ostentar um conhecimento que em parte não possuo, mas por continuar acreditando que junto comigo há uma multidão de professores que deseja que sua luta por melhores condições de emprego e melhoria de salários não se torne um desestímulo à nova geração.
Precisamos de professores esclarecidos, sérios, éticos e compromissados consigo mesmos , com seus sonhos com seus ideais, mas que fazendo isso não aniquilem  os sonhos e a esperança dos outros.
Quando ingressei no magistério há cerca de 10 anos atrás em minhas primeiras observações o que escutei foram palavras de desesperança que sequer desejo citar aqui por acreditar que não acrescentaria nada a vocês como não acrescentou a mim.
Palavras que te dizem para desistir antes de dar o primeiro passo na caminhada, que por muitas vezes é dolorosa, mas estimulante.
Não acredito ser esse o caminho … Esse caminho de desesperança, de palavras de fracasso, de indignação que sequer chega ao papel ou sai em forma de palavras da boca por medo da mordaça que o poder público por vezes nos coloca.
Calar ou perder o emprego?
Eu fiquei com a segunda opção, embora não seja opção pra boa parte das pessoas que conheço por inúmeros motivos.
Desvincular-se do sistema é maravilhoso, mas não ser aceita no espaço de  trabalho para o qual você está  plenamente capacitada e ama é uma dor descomunal. 
Isso é o que o sistema faz com quem resolve falar sozinha, com quem procura apoio entre seus colegas de profissão e só escuta “deixa isso quieto” “deixa como está” “nós não podemo fazer nada!”
Mas, por que desistir de lutar com esperança quando isso é parte inerente à minha natureza?
Impossível, falo mesmo, nunca me cansarei de falar  e de alguma forma estou em sala de aula com cada um de vocês diariamente.


Resta pensar que:


” A luta dos professores  em defesa de seus   direitos e de sua
dignidade deve ser entendida como um momento importante de sua prática
docente, enquanto prática ética.
Não é algo que vem de fora da atividade docente, mas algoque dela faz parte.” Paulo Freire

Então, que essa nossa luta seja diária, constante e incessante não nos deixando abater pelas dificuldades do dia a dia e principalmente não dando a entender aos novos professores que nada vale a pena no espaço educacional, que nada faz sentido, que toda luta é inválida, incabível  e sem causa.

Já estivemos em piores condições e não estamos nas melhores isso é bem verdade, mas isso em momento algum nos dá o direito de julgar que outras pessoas não conseguirão realizar aquilo que por um motivo ou outro acabamos fracassando.
Se é caminhando que se faz o caminho… Quero crer que ainda existe lá fora (embora muitos neguem) jovens militantes que se tornarão futuros professores e  conseguirão dar mais um passo a caminho do que todos tão aviadamente esperamos.
DIGNIDADE, MELHORES CONDIÇÕES DE EMPREGO, ENSINO IGUALITÁRIO E DE QUALIDADE PARA TODOS.
Finalizo reafirmando o que muito tenho falado ao longo dos meses sob pena de ser mal interpretada, de ser tida por radical ou de ser taxada de demagoga ou julgada por quem há muito desistiu de lutar.

Eu sou professora e ainda me dou ao luxo de ter esperança


Uma excelente noite pra vocês.

Gi Barbosa