Deficiência Visual Método Braile / Espaço do Educador

Olá queridos.

Hoje o espaço do Educador traz um assunto muito importante para o nosso novo modelo de Escola Inclusiva.
O assunto é Deficiência Visual e a professora Márcia Finkenauer nos enviou um texto de sua autoria muito interessante … O texto segue na íntegra , bem como as colocações da professora que são pertinentes e por isso mesmo não podem ser omitidas.

Oi, amada, sou usuária assídua das tuas ideias. Parabéns pela
criatividade e amor pela profissão que tens! Que Deus sempre esteja te
inspirando!

Sou professora especialista em Leitura e Produção Textual, tenho algumas
publicações, mas minha paixão são os pequenos, trabalhei com uma aluna
deficiente visual, então percebi como há poucos livros nesta área para abordar o
assunto não só para quem é deficiente, mas principalmente para seus colegas que
não são e precisam entender este tema para que realmente aconteça a inclusão,
então desenvolvi uma pequena obra,  trabalhei com os alunos e foi muito bom,
 gostaria de compartilhar na esperança que seja útil para sensibilizarmos nossas
crianças, pois só se respeita o
que se conhece…
Beijos

Márcia Finkenauer
VIVIANA
Márcia Finkenauer 
EMEF Dr Nadir Medeiros 
Camaquã, RS
Muito prazer, meu nome é Viviana. Eu adoro
meu nome, ele rima com muitas coisas bacanas,você deve logo ter pensado em
banana…
Banana,além de nutritiva é uma delícia, é
macia, dizem que é amarela, não sei,sei que a gente tira a casca dela, deixando-a
pelada e aí, nhac! Hum! Deu água na boca!
Voltando ao assunto da rima, prefiro
lembrar que meu nome rima com semana ,semana é uma palavra especial que abraça
sete dias. Tenho a impressão que os adultos têm algumas cismas com ela… Digo
isso, porque ouço meu pai dizendo no domingo “Ih, amanhã começa a semana!” e na
sexta “Ufa! Até que enfim é fim de semana!”.
Não dá pra entender,os adultos reclamam
quando começa e se alegram quando finda, mas se ela não começar como vai
findar?
Eseu nome, com que palavras  rima?
O que eu gosto mesmo no meu
nome  é o comecinho dele , o Vivi, adoro
esta palavra “vi”, já que eu, na verdade, 
nunca  vi , você deve estar se
perguntado  “Como assim?”
Ah, é que eu nasci cega dos olhos, não vejo
nada, mas sinto tudo, não sou cega do coração, percebo com meus outros
sentidos: a audição, o tato, o olfato, o paladar e é claro com o coração, com o
coração sinto o que os outros sentidos físicos não me mostram, por exemplo, com
o coração eu sinto as ondas do mar quando tocam meus pés, posso perceber,
apesar de não ver, que ele é grande e forte, belo e cruel…
Além do“vi” do meu nome ter irmão gêmeo, já
que é “Vivi” ele também representa o que é não enxergar, pois para mim, eu não
enxergo as coisas a minha volta mas eu “vivo” tudo que me cerca, me sinto parte
inseparável do mundo nos mínimos detalhes, como não vejo nada, eu me concentro
em cada detalhe dos sons, dos contatos e percebo-os de uma maneira muito
especial. Meu nome podia ser Vivoana, seria legal!
Às vezes, preciso de ajuda, há tantos
degraus, buracos, paredes neste mundo que é difícil se locomover,
principalmente para mim, pois eu ando como se flutuasse, mas ás vezes, Poim! Lá
vem um degrau inesperado, experimenta sair um dia desses de olhos fechados pra
você ver quantos galos e roxos você consegue!
Estou no 3º ano e estou aprendendo a ler em
Braille, aqueles pontinhos são danados, tem horas que fico confusa, mas é eles
que vão me levar ao mundo mágico dos livros.
Você sabe o que é Braille?
É um sistema de leitura com o tato, a gente
lê com a pontinha dos dedos, é feito de uma combinação de  seis pontinhos que ficam em duas colunas com
três pontinhos em cada, conforme o lugar que estão indicam uma letra, um sinal,
um número, é fascinante! Ele é representado assim:
Deficiência Visual  Método Braile / Espaço do Educador

 

Só assim eu vou conseguir ler e escrever o
que eu quero, o Braille está em todo lugar, nas caixas de remédios, em
embalagens de alguns produtos, você também pode conhecê-lo, eu leio com os
dedos e você com os olhos! Vai ser divertido!
Que tal eu te ensinar a ler em Braille,
sinta só, quer dizer olha só:
Vou te mostrar as letras do alfabeto de A a
J :

ALFABETO BRAILE

Agora vamos aprender como é o alfabeto de k
a T, é bem simples, é igual de A a J, só se acrescenta o pontinho três:

Deficiência Visual  Método Braile / Espaço do Educador

Gente, agora acrescente o pontinho seis e
iremos formar o restante do alfabeto e o Ç:

ALFABETO BRAILE

 Acho que o W é meio
rebelde e não acompanha seus colegas,então  ele é assim

Ah, quando a gente quer escrever um nome
próprio a gente começa com  letra
maiúscula, né? Em Braille também tem um símbolo indicando isso, ele é assim:

Quer ver como fica meu nome? A gente coloca
o sinal de maiúscula e o restante das letras  e ele fica assim:

Deficiência Visual  Método Braile / Espaço do Educador

 

E o seu, já pensou como
ficaria?
Ah, outro dia aprendi a contar em Braille,
acredita que os números são iguais às letras de A à J !?  O A representa o número 1 e o J o número 0, mas
para mostrar que lá vem um número e não uma letra,antes vai aparecer  uma indicação que se parece com um L virado:
Deficiência Visual  Método Braile / Espaço do Educador

 

Como eu tenho 8 anos, eu indico minha idade
assim:

 

O número 8 é representado pela letra h,
pois ela é a oitava letra do alfabeto.
E sua idade, como é representada em
Braille?
Sabendo os numerais eu posso realizar
cálculos e um monte de coisas! Eu não vejo a hora dos preços virem em Braille,
eu sempre tenho que perguntar quanto é o chocolate, porque chocolate não tem
inscrição em Braille, mas eu sinto com meu tato e é claro com o olfato, hum!!!
Mas o Braille também  pode representar acentuação, pontuação, sinais
e até notas musicais.
Falei tanto pra você sobre o Braille, mas
você sabe como ele surgiu e por que tem este nome? É uma história muito legal,
te prepara que eu vou contar, olha que eu sou boa em contar histórias:
Um dia, um menino francês de 3 anos estava na oficina
do pai, vendo-o fazer arreios e selas, tentando imitar o seu pai, agarrou num
instrumento pontiagudo e começou a bater numa tira de couro, o instrumento
escapou da sua mãozinha e atingiu o olho esquerdo. Pouco tempo depois, uma
infecção pegou no olho direito e ele ficou totalmente cego. Esse menino se
chamava Louis Braille, ele, como eu, adorava ouvir histórias, mas não podia
lê-las, um dia, como era bom aluno, aos 10 anos, ganhou uma bolsa de estudos e
foi estudar numa escola de cegos, lá eles tinham um método que ensinava a ler
com letras bem grandes em relevo, mas era complicado, imagina, uma história
curta enchia muitas páginas. A leitura era muito demorada, a impressão destes
livros era muito cara e em pouco tempo ele tinha lido tudo que havia na
biblioteca. Então ele começou a pensar numa outra forma de leitura, ele até
escreveu no seu diário: “Se os meus olhos não me deixam obter informações
sobre homens e eventos, sobre ideias e doutrinas, terei de encontrar uma outra
forma.”
Um dia ele ficou sabendo de um capitão do exército que tinha desenvolvido um
método para ler mensagens no escuro, então ele foi falar com esse soldado,
aprendeu o método e passou a estudar formas de melhorá-lo até que chegou no
método que a gente conhece hoje.
Este Louis Braille foi muito importante, né? Que bom
que existem pessoas como ele que contribuem para um mundo melhor, sabe, ler e
escrever é um sonho, se já é importante para quem vê com os olhos, imagina pra
gente!
Outro dia eu fiquei pensando numa coisa, eu estava
olhando um filme lá na minha escola,a profe ia me narrando tudo que estava
acontecendo porque tem momentos que só toca uma musiquinha e eu fico pensando
“Ué, o que houve, o que tá acontecendo?!” E se alguém não contar pra gente, não
dá pra entender toda a história, bom, voltando ao que eu estava pensando, se de
uma hora pra outra eu pudesse ver com os olhos, como será que seria o mundo? O
que afinal é cor? Fico imaginando, às vezes eu fico um pouco triste de não ver
com os olhos, mas quando penso que Deus me deu muitos outros sentidos pra ver o
mundo fico feliz novamente. E você já agradeceu pelos seus sentidos hoje?
A professora Márcia Finkenauer está escrevendo um livro que aborda a chegada do bebê pela visão da irmã, com
suas dúvidas, ciúmes… 
“…que é o meu caso, tenho uma filha de 5 anos e a Amanda
chega ainda este mês, a intenção é que o livro ajude outras mães a fazerem o
filho aceitar a chegada do irmão,  ainda não sei bem como vai ser, está em
construção…”Márcia Finkenauer
Agradecemos a contribuição da professora  Márcia Finkenauer  no Espaço do Educador Ideia Criativa. 
Ficamos imensamente felizes com sua colaboração mediante um tema considerado tão complexo na educação desde o momento em que se cogitou a inclusão do aluno Portador de Deficiência Visual no espaço escolar regular  .
Isso realmente é um desafio e precisamos da contribuição de todos para que possamos quebrar paradigmas e compreender de uma vez por todas que há sim espaço para a Inclusão em nossas escolas.
Desejamos  também que a chegada de seu bebê seja carregada de alegrias e bençãos sem fim.
Que essa herança do Senhor seja recebida cercada de todo amor, toda graça e toda plenitude de vida.
PS: O espaço do Educador está aberto a quem queira contribuir relatando suas experiências…