Construtivismo não é método para alfabetização .

Construtivismo não é método para alfabetização .

   
       “O construtivismo não é um método, é um conceito”, afirma Silvia de
Mattos Gasparian Colello, do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre
Alfabetização e Letramento (GEAL), da USP, acerca da polêmica sobre a
melhor orientação para a alfabetização no país.
        Diante dessa questão posta pesquisei a cerca do Construtivismo e resolvi postar para vocês as 50 questões básicas sobre Construtivismo publicadas na Revista NOVA ESCOLA em Março de 1995, para que possamos conhecer melhor e avaliar o que pode ser aplicado de forma produtiva em nossa sala de aula.

1 — O que é o construtivismo?
 
É o nome pelo qual se tomou conhecida uma nova linha pedagógica que
vem ganhando terreno nas salas de aula há pouco mais de uma década. As maiores
autoridades do construtivismo, contudo, não costumam admitir que se trate de uma
pedagogia ou método de ensino, por ser um campo de estudo ainda recente, cujas práticas,
salvo no caso da alfabetização, ainda requerem tempo para amadurecimento e
sistematização.

2- Em que se distingue a pedagogia construtivista, em linhas gerais?
O construtivismo propõe que o aluno participe ativamente do próprio
aprendizado, mediante a experimentação, a pesquisa em grupo, o estímulo à dúvida e o
desenvolvimento do raciocínio, entre outros procedimentos. Rejeita a apresentação de
conhecimentos prontos ao estudante, como um prato feito, e utiliza de modo inovador
técnicas tradicionais como, por exemplo, a memorização. Daí o termo
“construtivismo”, pelo qual se procura indicar que uma pessoa aprende melhor
quando toma parte de forma direta na construção do conhecimento que adquire. O
construtivismo enfatiza a importância do erro não como um tropeço, mas como um
trampolim na rota da aprendizagem. O construtivismo condena a rigidez nos procedimentos de
ensino, as avaliações padronizadas e a utilização de material didático demasiadamente
estranho ao universo pessoal do aluno.

3 — Com base em que o construtivismo adota tais praticas?
Com base nos estudos do psicólogo suíço Jean Piaget (1896-1980),. a
maior autoridade do século sobre o processo de funcionamento da inteligência e de
aquisição do conhecimento. Piaget demonstrou que a criança raciocina segundo estruturas
lógicas próprias. que evoluem conforme faixas etárias definidas, e são diferentes da
lógica madura do adulto. Por exemplo: se uma criança de 4 ou 5 anos transforma uma
bolinha de massa em salsicha. ela conclui que a salsicha. por ser comprida, contém mais
massa do que a bolinha. Não se trata de um erro, como se julgava antes de Piaget, mas de
um raciocínio apropriado a essa faixa etária. O construtivismo procura desenvolver
práticas pedagógicas sob medida para cada degrau de amadurecimento intelectual da
criança.

4 — Piaget criou o construtivismo?
Nada mais falso. Ao contrário do que muitos imaginam, ele nunca se
preocupou em formular uma pedagogia: dedicou a vida a investigar os processos da
inteligência. Outros especialistas é que se valeram das suas descobertas para
desenvolver propostas pedagógicas inovadoras.

5 — De onde vem, então, o construtivismo?
Quem adotou e tornou conhecida a expressão foi uma aluna e
colaboradora de Piaget. a psicóloga Emilia Ferreiro. nascida na Argentina em 1936 e que
atualmente mora no México. Partindo da teoria do mestre, ela pesquisou a fundo, e
especificamente. o processo intelectual pelo qual as crianças aprendem a ler e a
escrever, batizando de construtivismo sua própria teoria.

6 — Então é ela a autora da pedagogia construtivista?
Não. A exemplo de Piaget, Emilia se limitou a desenvolver uma teoria
científica. Outros especialistas é que vêm utilizando suas descobertas, assim como as
de Piaget. para formular novas propostas pedagógicas. No começo, o nome construtivismo
se aplicava só à teoria de Emilia. Com o tempo, passaram a ser chamadas de
construtivistas as novas propostas pedagógicas inspiradas em sua teoria, a própria
teoria de Piaget e ate mesmo pedagogias anteriores, porem compatíveis, como a do educador
soviético Lev Vvgotsky (1896-1934).

7 — O que a teoria de Emilia Ferreiro sustenta?
A pesquisadora aplicou a teoria mais geral de Piaget na investigação
dos processos de aprendizado da leitura e da escrita entre crianças na faixa de 4 a 6
anos. Constatou que a criança aprende segundo sua própria lógica e segue essa lógica
até mesmo quando ela se choca com a lógica do método de alfabetização. Em resumo, as
crianças não aprendem do jeito que são ensinadas. A teoria de Emilia abriu aos
educadores a base científica para a formulação de novas propostas pedagógicas de
alfabetização sob medida para a lógica infantil.

8 Qual é a lógica infantil na alfabetização, segundo
Emilia Ferreiro?
A pesquisadora constatou uma sequência lógica básica na faixa de 4 a
6 anos. Na primeira fase, a pré-silábica. a criança não consegue relacionar as letras
com os sons da língua falada e se agarra a uma letra mais simpática para
“escrever”. Por exemplo, pode escrever Marcelo como MMMMM ou AAAAAA. Na fase
seguinte, a silábica, já interpreta a letra à sua maneira, atribuindo valor
silábico a cada uma (para ela. MCO pode ser a grafia de Mar-ce-lo. em que M=mar, C=ce e
0=l0). Um degrau acima, já na fase silábico-alfabética, mistura a lógica da fase
anterior com a identificação de algumas sílabas propriamente ditas. Por fim, na última
fase, a alfabética, passa a dominar plenamente o valor das letras e silabas.

9 — O construtivismo se aplica somente à alfabetização
infantil?
Não. Ainda se encontra muito vinculado à alfabetização, porque foi
por essa área que começou a ser desenvolvido, a partir da base teórica proporcionada
por Emilia Ferreiro. Contudo, práticas construtivistas, devidamente adaptadas, já estão
bastante difundidas até a quarta série do primeiro grau. A partir da quinta série,
porém, quando cada disciplina passa a ser ministrada por um professor especializado, tais
práticas são menos utilizadas, até pela relativa escassez ainda registrada de pesquisas
teóricas equivalentes às de Emilia.

10 — Por que o construtivismo faz restrições à
“prontidão” na alfabetização infantil?
Com base nas teorias de Piaget e Emilia Ferreiro, os construtivistas
consideram inútil a prontidão, ou seja, o treinamento motor que habitualmente se aplica
às crianças como preparação do aprendizado da escrita. Para eles, aprender a ler e
escrever é algo mais amplo e complexo do que adquirir destreza com o lápis.

11 — O aluno formado pelo construtivismo fica bom de raciocínio,
com mais senso crítico, porém mais fraco de conhecimentos?
Não é bem assim. Os construtivistas insistem em que, embora o
construtivismo enfatize o processo de aprendizagem, este não ocorre desligado do
conteúdo: simplesmente não há como formar um indivíduo crítico no vazio. Portanto, a
aquisição de informações é fundamental.

12— Como o construtivismo transmite o conhecimento não passível
de ser “construído” pelo aluno, como nomes de cidades ou de presidentes?
O construtivismo estimula a descoberta do conhecimento pelo aluno.
Evita afogá-lo com informações prontas e acabadas, mas quando necessário não hesita
em valer-se da memorização. Neste caso, a professora deve escolher o momento oportuno e
criar situações interessantes para transmitir esses conhecimentos, fugindo assim da
rigidez da prática tradicional.

13 O construtivismo requer mais atenção individual ao
aluno do que outras linhas de ensino?
Sim, mas não com a obsessão que às vezes se imagina. Se o
construtivismo admite que cada aluno tem o seu processo particular de aprendizagem, a
professora deve conhecê-lo, acompanhá-lo e fazer as intervenções adequadas. Mas isso
não quer dizer centralização total, ao contrário. O construtivismo valoriza muito o
intercâmbio entre os alunos e o trabalho de grupo, em que a professora tem uma presença
motivadora e menos impositiva.

14 Como a professora pode dar atenção individualizada
em classes de 30 ou 40 alunos?
O ideal é que as classes não sejam tão numerosas. Mas, de qualquer
modo, vale a alternativa de trabalhar com duplas ou trios, agrupando as crianças por
habilidades parecidas ou opostas, a critério da professora. No construtivismo, a
professora aproveita a individualidade de cada aluno para o enriquecimento do grupo.

15 Por que o construtivismo contesta o ensino dirigido?
Não é bem isso. O construtivismo considera a sistematização do
ensino necessária, mas aplicada com bom senso e flexibilidade. Contesta, sim, que o
currículo seja uma imposição unilateral, uma camisa-de-força, com etapas rígidas,
sucessivas e inalteráveis. Não se aprende por pedacinhos, mas por mergulhos em conjuntos
de problemas que envolvem vários conceitos ao mesmo tempo, afirmam os construtivistas.

16 — Por que a alfabetização construtivista rejeita o uso da
cartilha?
Primeiro, porque a cartilha prevê etapas rígidas de aprendizagem,
coisa que o construtivismo descarta. Segundo. porque os construtivistas acham que a
linguagem geralmente usada nas cartilhas (“Bá-bé-bi”. “Ivo viu a
uva” etc.) é padronizada, artificial, distante do mundo conhecido pela criança.

17— Por que o construtivismo faz restrições aos livros
didáticos?
Pelo fato de a maioria deles apresentar o conhecimento em sequência
rígida, prevendo uma aprendizagem de conceitos baseada na memorização.

18— E ao ensino da tabuada?
O caso é diferente. A memorização é essencial para agilizar o
cálculo mental, mas isso deve ocorrer após o aluno compreender o significado das
operações aritméticas, como a multiplicação. O que os construtivistas não aceitam é
a memorização puramente mecânica. conhecida como “decoreba”.

19— E a restrição ao ensino de regras gramaticais?
O construtivismo contesta que o ensino da gramática seja o meio para
se levar o aluno a entender e dominar o processo de escrever corretamente. Isso se adquire
praticando a escrita, mesmo com erros gramaticais. A medida que o aluno vai dominando a
escrita é que se passa a ensinar-lhe a gramática. As regras identificam certas
regularidades da língua, mas para entendê-las é preciso tê-las percebido na prática.

20 — Por que o construtivismo, em geral, não aceita o uso de
fórmulas, como as de matemática e as de sintaxe? 
Não é que não aceite. A restrição é ao ensino de fórmulas como
se fossem os conteúdos, pois elas não passam de esquemas sintéticos muito mais
abstratos. A fórmula, em si mesma, não é o núcleo do conhecimento, mas aquilo que o
sustenta.

21 — Qual é o papel da professora no construtivismo e em que
difere do ensino tradicional? 
Em vez de dar a matéria, numa aula meramente expositiva, a professora
organiza o trabalho didático-pedagógico de modo que o aluno seja o co-piloto de sua
própria aprendizagem. A professora fica na posição de mediadora ou facilitadora desse
processo.

22 — O que é necessário para ser uma boa professora
construtivista?
Mentalidade aberta, atitude investigativa. desprendimento intelectual,
senso crítico, sensibilidade às mudanças do mundo combinada com iniciativa para
torná-las significativas aos olhos dos alunos e flexibilidade para aceitar a si mesma em
processo de mudança contínua. Ela precisa dar mais de si e precisa estar o tempo todo se
renovando, para sustentar uma relação com os alunos que não se baseia na autoridade.
mas na qualidade.

23 — A professora construtivista precisa de uma orientadora
pedagógica? 
Sim. A orientadora é importante, não para tutelar a professora, mas
para servir de interlocutora com quem ela possa refletir sobre sua prática.

24 — É possível ser construtivista em uma escola tradicional?
Em geral, o projeto pedagógico de uma escola tradicional não favorece
nem leva em conta o trabalho de uma professora que resolva tocar em outro tom. Embora seja
difícil manter uma proposta individual num ambiente alheio a mudanças, há muitos casos
assim. Além disso, deve-se considerar o fato de que é difícil uma escola passar a ser
construtivista num só golpe. Isso ocorre de maneira paulatina, até porque o
construtivismo, do mesmo modo que respeita os processos de transformação por que passam
os alunos, também deve respeitar o das próprias professoras.
25 — Existem manuais que ensinem a ser construtivista?
Manuais, com tudo mastigado, não. Mas não falta material de apoio
para que a professora comece a olhar seu trabalho de outro modo (leia bibliografia ao
final deste texto).
O fundamental, de qualquer maneira. é a prática. Calcula-se que
são necessários ao menos dois anos de prática em classe, reforçados por reuniões
semanais com outros colegas, para tornar-se uma boa professora construtivista.

26— Existem cursos que ensinem a ser construtivlsta?
Algumas instituições promovem cursos de extensão ou
especialização, seminários, palestras e reuniões de estudo com essa finalidade. Mas
atenção: nesses cursos não se ensina a ser construtivista. Neles se discute a prática
da professora, de modo que ela ganhe elementos para encontrar seu próprio caminho, mais
ou menos como depois irá fazer em relação ao aluno.

27 — Quais as vantagens do construtivismo sobre outras linhas de
ensino?
Procura formar pessoas de espírito inquisitivo, participativo e
cooperativo, com mais desembaraço na elaboração do próprio conhecimento. Além disso,
o Construtivismo cria condições para um contato mais intenso e prazeroso com o universo
da leitura e da escrita.

28 — Quais as desvantagens do construtivismo em relação a outras
linhas de ensino?
Sendo uma concepção pedagógica nova e flexível, não oferece à
professora instrumentos tão seguros e precisos com respeito ao seu trabalho diário.
Ainda há muito por sistematizar, admitem os construtivistas.

29 As outras linhas de ensino não podem formar alunos
tão bem ou mesmo melhor que o construtivismo?
Em termos de quantidade de conhecimento, sim. Quanto à qualidade do
conhecimento, dificilmente, pois o construtivismo desperta no aluno um senso de autonomia
e participação que não é comum em outras linhas pedagógicas, sustentam os
construtivistas.

30 — O construtivismo forma o estudante com mais ou menos rapidez
que outras linhas de ensino?
O construtivismo não dá exagerada importância a prazos rígidos. Na
alfabetização construtivista, estima-se que um aluno do meio rural, que nunca viu nada
escrito, precisa de dois a três anos para chegar a ler e escrever com eficiência. Já no
meio urbano, um aluno de 7 anos, que convive intensamente com a escrita, leva algo em tomo
de um ano e meio. Comparativamente, no ensino convencional, a maioria das crianças é
capaz de soletrar e formar palavras em um ano – o que os construtivistas, contudo, não
consideram alfabetização.

31 — Como a escola construtivista lida com a ansiedade de pais que
percebem seus filhos atrasados em relação a crianças de outras escolas?
Aproximando os pais da escola, tenta-se demonstrar a eles quais as
diferenças desta nova concepção de trabalho, comparando-a com o ensino tradicional.
Pode não se tratar propriamente de um atraso, no sentido de deficiência no
aproveitamento, mas de um outro ritmo de aprendizado que, ao final do ano, vai resultar
numa vantagem qualitativa.

32-Um aluno formado exclusivamente dentro dos moldes construtivistas
pode competir em igualdade de condições em vestibulares e concursos públicos?
A resposta é arriscada, pois ainda há muito poucos alunos formados
exclusivamente pelo construtivismo em idade de vestibular e não há pesquisas conhecidas
a respeito.

33 — O construtivismo permite que os pais ajudem os filhos nas
tarefas de casa?
Ponto polêmico. Alguns admitem que sim: se o jeito de ensinar dos pais
for diferente do da escola, a criança tem a vantagem de dispor de outra forma de
aprender. Outros, contudo, sustentam que a tarefa de casa é para ser realizada pelo
aluno. A vantagem, aí, seria ele ter chance de experimentar uma situação rara para ele
na escola, uma vez que a maioria das atividades em classe é realizada em grupo.

34 — Como é a avaliação do aluno no construtivismo?
O aluno é permanentemente acompanhado, pois a avaliação é
entendida como um processo contínuo, diferente do sistema de provas periódicas do ensino
convencional. Segundo os construtivistas, a avaliação tem caráter de diagnóstico – e
não de punição, de certo ou errado, de exclusão. Além disso, a própria professora
também se auto-avalia e modifica seus rumos.

35 — Em que difere a prova construtivista?
Ela tem peso menor que no ensino tradicional. Não é o único
indicador do rendimento do aluno, que também é avaliado pelo desempenho rotineiro em
classe. Além do mais, a prova não é uma peça estranha ao grupo, elaborada fora da sala
de aula, por um especialista (geralmente um coordenador). Tal responsabilidade cabe à
própria professora, que leva em conta aquilo que já foi efetivamente trabalhado na sala
de aula.

36—O que significa o erro do aluno?
É tomado como um valioso indicador dos caminhos percorridos por ele
para chegar até ali. A professora não está tão preocupada com o acerto da resposta
apresentada pelo aluno, mas sobretudo com o caminho usado para chegar a ela. Em vez de ser
um mero tropeço, o erro passa a ter um caráter construtivo, isto é, serve como
propulsor para se buscar a conclusão correta.

37 O construtivismo não corrige o erro do aluno?
Corrige, mas sempre tomando o cuidado de que a correção se transforme
numa situação de aprendizagem, e não de censura. Por exemplo, no início do ano a
professora pede aos alunos que escrevam um texto e guardem o material corrigido. No fim do
ano, pede uma nova redação sobre o mesmo tema. Então, junto com os alunos. compara os
dois trabalhos, ressaltando os progressos ocorridos. No ensino tradicional, o erro deixa
menos vestígios no caderno do aluno, pois é corrigido, apagado, à medida que aparece.

38—O construtivismo reprova?
Sim, quando o aluno se encontra em tal atraso em relação ao resto da
turma, que fazê-lo passar de ano seria lançá-lo numa situação muito desagradável. De
qualquer modo, tenta-se evitar que a criança viva a reprovação como um atestado de sua
incapacidade ou como castigo por não ter aprendido.

39 Os alunos transferidos de uma escola construtivista
para outra, não-construtivista, acompanham mal a
nova turma?
Os construtivistas não reconhecem a existência deste fenômeno, mas
especulam que poderia tratar-se de uma pura e simples questão de adaptação, e não de
despreparo. Os alunos podem achar a nova escola desinteressante, não gostar da postura da
professora ou estranhar os métodos de avaliação.

40 O aluno educado no construtivismo é mais sujeito a
cometer erros do
português?
No inicio do construtivismo isso ocorria com freqüência. porque os
professores se preocupavam mais com o conteúdo do texto do que com a ortografia – falha
que passaram a corrigir nos últimos cinco anos.

41 — Por falta do treinamento motor (prontidão), as crianças
alfabetizadas no construtivismo acabam fracas de caligrafia?
O construtivismo sustenta que não, pois o treinamento delas se faz à
medida que vão escrevendo. Algumas escolas chegam ainda a lançar mão do velho caderno
de caligrafia, como no ensino tradicional, quando a criança tem letra ruim.

42 O construtivismo desestimula a competição entre os
alunos?
Sim, pois uma de suas linhas mestras repousa justamente na cooperação
entre eles. No entanto, mesmo pondo de lado a competição, o construtivismo investe no
desafio pessoal, como motivação para a criança ir sempre avante nas trilhas do
conhecimento

43 A sala de aula numa escola construtivista é mais
barulhenta e agitada do que na tradiconal?
Em termos. O que ocorre é que as crianças não são passivas. mas sim
estimuladas a participar, dizem os construtivistas

44 — As crianças não tendem a ficar indisciplinadas, malcriadas
e incapazes de ouvir o outro, em consequência de uma educação construtivista? 
Caso elas tendam à indisciplina e ao desrespeito a outra
pessoa, seja colega ou professor, terá falhado um dos pilares do construtivismo,
argumentam seus praticantes, pois o que se enfatiza é justamente a reciprocidade na
fixação de regras, no escutar e no ouvir, nos direitos e deveres, nos princípios
básicos da cidadania e da democracia.

45 — O professor construtivista deixa os alunos fazerem o que bem
entendem em classe?
Não. A sala de aula é um espaço com regras de funcionamento e de
convivência. O superliberalismo pedagógico destoa das concepções do construtivismo.

46 — O construtivismo pune alunos indisciplinados?
Sim, porém o caráter dessa punição, dentro do possível, deve ser,
digamos, “construtivo” – deve buscar a reciprocidade e a reparação. Por
exemplo, se uma criança rasga um livro, deve consertá-lo. De todo modo. em casos mais
graves, admite-se até a tradicional suspensão.

47 Como o construtivismo se espalhou?
As bases teóricas foram estruturadas na primeira metade deste século,
com Piaget e os psicólogos soviéticos, entre os quais Lev Vygotsky é o mais divulgado
no Brasil. As pontes para a prática pedagógica se consolidaram com Emilia Ferreiro e
seus colaboradores, a partir do final da década de 1970. Na década seguinte, o
construtivismo se disseminou na América Latina, principalmente na Argentina e no Brasil.
As experiências brasileiras mais expressivas foram registradas nas redes municipais de
Porto Alegre e de São Paulo, assim como no ciclo básico (as duas primeiras séries) da
rede estadual paulista.

48 — O construtivismo passou por mudanças desde que começou a
ser adotado no Brasil?
Sim. A fase inicial, em que o aluno era deixado muito solto,
como se a professora não estivesse na sala de aula (prática espontaneísta). está
superada. Hoje se quer do professor uma atuação firme e planejada (prática
intervencionista). No geral, contudo, o núcleo pedagógico do construtivismo permanece
inalterado.

49 — A interdisciplinaridade tem alguma relação com o
construtivismo?
Sim, embora a interdisciplinaridade seja uma prática pedagógica
autônoma e anterior ao construtivismo. Como nenhum professor, por mais ampla que seja a
sua formação, pode dominar todos os conhecimentos envolvidos na tarefa de lecionar, o
trabalho interdisciplinar é recomendado para todo e qualquer nível.

50— É feio não ser construtivista? 
Não, absolutamente. Feio é não ser autêntica e não se preocupar em
dar o melhor aos alunos, seja de si mesma. seja das múltiplas áreas do conhecimento.
Feio, enfim, é ser má professora. 

BIBLIOGRAFIA
Psicogênese da língua Escrita, de Emilia Ferreiro e Ana
Teberosky. Ed. Artes Médicas, Av.
Jerônimo Ornellas. 670. CEP 90040-340. Porto Alegre. RS. Tel: (051)
330-3444/330-2183

A Escrita e a Escola, de Ana Maria Kaufman. Ed. Artes Médicas.

Alfabetização em Processo, de Emilia Ferreiro. Ed. Cortez. R.
Bartira. 387. CEP 05009-000. São Paulo. SP. Tel: (011) 864-0111.

Ensaios Construtivistas, de Lino de Macedo. Ed. Casa do Psicólogo.
R. Alves Guimarães, 436, CEP 05410-000. São Paulo, SP, Tel: (011) 852-4633.

Aprendendo a Escrever: Perspectivas Psicológicas e Implicações
Educacionais
, de Ana Teberosky. Ed. Ática. R. Barão de Iguape. 110. CEP: 01507-900,
caixa postal 8656, São Paulo, SP. Tel: (011) 278-9322.
No site http://www.labjor.unicamp.br/midiaciencia/article.php3?id_article=219 ( Acessado em 13 de maio de 2012) encontrei exemplos de atividades do Consturivismo e do Método Fônico para que possamos comparar e selecionar o que há de melhor em cada uma das propostas, pois sou a favor de, primeiro analisar o que pode ser melhor pra minha turma, sem tomar essa ou aquela proposta por “errada. Vamos analisar?
Exemplos de atividades
No contrutivismo, que
trabalha com
textos inteiros e reais
Livro
dos Desertos

A professora propõe um tema: “Vamos estudar o
deserto?” Como os bichos
e as plantas conseguem viver no deserto? Onde estão os
desertos? Todos
estão no mesmo lugar? Eles [os alunos] vão
trabalhando com resoluções
de problemas. Aí, a professora mostra jornais com
matérias e mapas da
corrida Paris-Dakar, por exemplo. Os alunos são levados a
discutir a
trajetória, os tipos de acidentes que aconteciam no deserto,
como os
competidores se alimentavam, enfim, depois que eles chegam a alguma
conclusão, a professora pede para que escrevam o que eles
aprenderam
sobre o tema. As crianças dizem “Mas eu
não sei escrever, professora!”.
Ela, então, incentiva: “Escreva do jeito que
você sabe! Peça ajuda ao
seu amigo!” “Eu quero escrever que no deserto
não tem chuva.” Sem o
compromisso do certo e do errado, as crianças são
alfabetizadas. Depois
de escritos vários textos (sobre as plantas, os bichos do
deserto,
etc), os trabalhos são compilados em uma espiral, a
criança aprende a
escrever escrevendo o Livro dos Desertos. (por Silvia de Mattos
Gasparian Colello, do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre
Alfabetização
e Letramento da USP)
No método
fônico, que associa letras a sons
Jogo
de percurso

Cada criança retira, em sua vez, um pequeno cartaz de uma
caixa de
papelão. No cartaz há uma figura desenhada (pode
ser um animal como
camelo, um veículo como trem, um brinquedo como boneca, e
assim por
diante). A professora pergunta ao grupo qual o nome da figura. No
grupo, uma criança pode saltar à frente
é gritar. “É um camelo!”. As
demais, naturalmente, repetem o nome do animal na figura. A professora
então pergunta quantos sons tem essa palavra e pede para
contarem todos
juntos /c/ /a/ /m/ /e/ /l/ /o/ dizem eles (no método
fônico as crianças
não pronunciam os nomes das letras, mas sim seus sons!).
“Então, vamos
contar quantos sons tem essa palavra?”, estimula a
professora. Enquanto
pronuncia os sons todos de novo, ela vai mostrando os dedos um a um.
Nesse ponto uma criança do grupo (uma qualquer,
já que sempre é
espontâneo e voluntário) salta à frente
e diz: “Tem 6, professora! Tem
6 sonzinhos!”. Isso, diz a professora. E pronuncia, enquanto
conta com
os dedos. “Então, pessoal, quantas casas o
Júnior vai andar?” “Seis
casas!”, gritam todos. (por Fernando César
Capovilla, professor
associado em psicologia experimental humana do Instituto de Psicologia
da USP, via e-mail)