Eu poderia chamar este post de Crucificando o Cordeiro, mas diriam que estou evangelizando e este post não tem nada que ver com evangelismo ou doutrinamento religioso.
Vamos ao polêmico tema Páscoa Cristã na escola?
É todo ano a mesma coisa!
Se o professor põe uma ovelha ou cordeiro numa atividade de Páscoa escuta os discursos inflamados de alguns que usam o seguinte argumento:
– Que absurdo. A escola é laica!
E começa uma verdadeira guerra para definir as razões pelas quais a ovelha não deve nunca aparecer em atividade de Páscoa.
Algumas indagações para abrir um raciocínio:
- A escola é neutra em relação à religião como é neutra em relação ao consumismo?
- Até que ponto utilizar como símbolo o coelho e presentear com ovos de Páscoa não é uma espécie de doutrinamento ao consumo?
- E em que ponto por exemplo explorar o tema religiões afro-brasileiras(presente nos currículos) vai converter algum aluno?
- Será que futuramente os livros de história deixarão de contar a história do Deus dos judeus ou dos deuses gregos ou romanos para que não se venha doutrinar?
- De repente, quem sabe se deva remover dos anais da história a reforma protestante? Ou o princípio da Educação Infantil no Brasil com a roda dos expostos onde crianças recolhidas eram cuidadas por instituições religiosas? Ou quem sabe ainda jamais se deva fazer menção que nosso país é em sua grande maioria cristã? Ou que existem diversas religiões e milhares de deuses?
Deu pra pensar, né?
O que acredito é que esteja havendo um equívoco sem tamanho para esta questão.
De acordo com o site Observatório da Laicidade na Educação.
Na escola pública laica, a religião não é matéria de ensino nem coadjuvante de outras matérias. Dito de outro modo: não existe nela a disciplina Ensino Religioso, nem mesmo em caráter facultativo, (…) a religião também não penetra clandestina no conteúdo de outras disciplinas. A religião pode ser tema de análise da Filosofia, da Sociologia e da História, mas não é referência para sustentação de valores, visões de mundo, comportamentos ou atitudes.
Grifei a parte final do texto para que possamos analisar.
A questão da laicidade da escola, do não doutrinamento vai depender ainda da postura de cada professor frente ao tema, de sua abordagem e não de determinado símbolo utilizado para demonstrar a Páscoa do ponto de vista cristão como a ovelha que trará matéria para o estudo de animais mamíferos, vertebrados, número de patas, número de letras da palavras, recorte, colagem, etc…
Meu aluno tem o direito de conhecer
- Páscoa Cristã
- Páscoa Comercial
- Páscoa Judaica
- Como os cristãos comemoram a páscoa?
- Como os judeus comemoram a Páscoa?
- Como o capital lucra com a Páscoa?
São assuntos diferentes e visões diferentes de um mesmo tema.
O que eu não posso, enquanto professor é converter a criança ao cristianismo ou ao judaísmo ou mesmo ao consumismo.
Minha função é que elas compreendam que cada povo comemora a Páscoa de seu jeito e que em todas elas existem símbolos e isso me dá o direito de pedagogicamente explorar os diversos símbolos de cada uma e ilustrar, montar, escrever, fazer arte, debater, etc…´
Cá para nós…
O professor doutrinador não precisa colocar uma ovelha numa atividade para doutrinar. Ele o faz diariamente em suas posturas e não é vendo uma atividade com ovelha que vou definir meu colega como doutrinador, como alguém que desrespeita a laicidade da escola.
Eu não estava presente na aplicação da atividade, não vi as estratégias e as competências trabalhadas.
Eu ia falar que não posso julgar… Ops…. Esqueci que não estou evangelizando…
Eu não tenho direito, em hipótese alguma de aferir juízo de valor ao trabalho de um professor sendo que vi apenas uma foto de atividade na rede.
Isso sim é inadmissível, isso sim é um tremendo absurdo!