Os conceitos teóricos atuais trazem em seu bojo palavras de ordem tais como, Cidadania, Democracia, Liberdade etc. São conceitos que se vivenciados em uma sociedade com estrutura basilar bem estabelecida geram resultado altamente humanos e condizentes com tais conceitos, levando a uma emancipação saudável e humanitária. Diante disto urge os questionamentos sobre a liberdade pregada e de certa forma vivida nas escolas brasileiras. Liberdade esta que inclui o direito de depredar, vandalizar, destruir e furtar.
Uma escola que não pode ter papel higiênico nos banheiros, pois os alunos destroem e jogam dentro do vaso, desperdiçam e vandalizam tudo.
Uma escola cuja sala de informática é constantemente furtada, onde não pode ficar fone de ouvido, nem qualquer outra peça que possa ser levada embora pelo furto.
Cadeiras quebradas, mesas de refeitório totalmente destruídas, lixeiras quebradass, banheiros “pixados” e destruídos. Que liberdade é esta? Que escola é esta? Faculdade dos crimes menores que levarão aos maiores? Que democracia é esta? Aquele que respeita a regra não é protegido daquele que não respeita, logo, é mais fácil transgredir, do que obedecer, pois não punições e o bom comportamento não diferencia, pelo contrário, excluí.
Veja como é linda e utópica no momento tal realidade.
Educar é uma atividade do dia a dia. É instrução, escola, boas maneiras, comportamento, obediência, silêncio, limpeza. É tudo isso e seu reverso. Educar é a maneira mais abrangente que temos para designar as relações sociais. Podemos escolher entre educar para a liberdade ou educar com autoridade. Educar para a liberdade é antes de mais nada saber que a autoridade se esgota no seu próprio conhecimento. É um acontecimento de vida que envolve a criança, seus pais, parentes, vizinhos, amigos e até professores, criando em função do talento, através de relações horizontalizadas. Os superiores hierárquicos desaparecem para que predomine a amistosidade. Abandona-se a esperança no comportamento estandartizado para se potencializar liberdades exercidas por pessoas livres. Educar para a liberdade não é uma utopia. É uma realidade possível que acontece uma vez que se deseje liberdade. Pais, professores, estudiosos e todos os educadores podem desejá-lo em nome da liberdade da criança. Educar para a liberdade é a maneira pela qual pode ser contida a violência, valorizando-se a ajuda mútua. PASSETI (2013).
Lendo tal conceito teórico fico me perguntando: Este conceito é real? Se for real, porque não está dando certo? Porquê as escolas continuam sendo alienantes e altamente prejudiciais a formação da sociedade? Porque uma criança sai de casa, com seu perfil de caráter moral construído na primeira infância e com seis meses na escola apresenta comportamentos rebeldes, insubordinados, agressivos, violentos, com alto teor de vandalismo nas atitudes mesmo dentro de casa? Será que escola está seguindo o modelo da FEBEM, dos manicômios, e dos presídios? Onde o usuário entra meia vida e sai morto? Entra com trasntorno de personalidade leve, e sai louco, entra como ladrão de galinha e sai ladrão de banco?
Admiro a defesa inquestionável do mestre Paulo Freire, e se ele estivesse vivo em matéria hoje, estaria esmurando sua mesa de compor ideias, ao ver o circo que virou a liberdade assistida oferecida aos educandos brasileiros.
Uma pedagogia que estrutura seu círculo de cultura como lugar de uma prática livre e crítica não pode ser vista como uma idealização a mais da liberdade. As dimensões do sentido e da prática humana encontram-se solidárias em seus fundamentos. E assim a visão educacional não pode deixar de ser ao mesmo tempo uma crítica da opressão real em que vivem os homens e uma expressão de sua luta por libertar-se. FREIRE (1967).
A liberdade de um ser, termina onde começa a do outro! Infelizmente a pedagogia atual parece ter esquecido este detalhe, ou realmente perdeu o controle da situação e está apenas usando o termo para justificar seu fracasso. Resta-nos a seguinte pergunta: Até quando seremos vitimas de um sistema que não pune nem cria mecanismos de defesa aos alunos que tem bom comportamento? Até quando veremos escolas destruídas e sem a verdadeira liberdade que tanto pregamos?
De fato, a educação é responsável por, digamos, 50% da formação moral, e a outra parte cabe a família, mas que retorna a educação, que por gerações assumiu esta postura libertaria (ou não) sem criar mecanismos de proteção e responsabilização.
Mas se uma pedagogia da liberdade traz o gérmen da revolta, nem por isso seria correto afirmar que esta se encontre, como tal, entre os objetivos do educador. FREIRE (1967)
A revolta expressada pelo oprimido no momento que sente os grilhões caírem dos braços, precisa ser assistida e orientada, do contrário não saberão o que fazer com ela. Pregar liberdade, sem oferecer limites é irresponsável, e é isso que a teoria tem feito. Sejam livres! Mas não ensinam a ser livres. E pessoas livres, sem direção, são piores que as não livres. Pois irão usar esta liberdade para o mal e para sua própria destruição.
A democracia, inevitavelmente trás a liberdade, e a liberdade trás o direito a escolha, mas escolher o que na falta de opção? Que opção seria esta? Uma pedagogia que alcance os pais dos alunos, por força de lei, enquanto isso não acontecer, não haverá liberdade de fato. Haverá uma liberdade para o erro, mas não para escolha.
Dizemos que se anunciam tendências à democracia, e não que esta se apresente como algo inevitável, pois a democracia, como a liberdade, é um dos temas históricos em debate e sua efetivação vai depender das opções concretas que os homens realizem. FREIRE (1967).
Como concretizar esta liberdade sem formar delinquentes? Vândalos? Bandidos? Como? A resposta é óbvia, Construindo uma pedagogia que alcance a família, que saia de dentro da sala de aula, e chegue efetivamente ao núcleo da família, que alcance a família, de dentro para fora, e de fora para dentro. E isso não poder feito apenas pelos docentes, precisa da intervenção direta das legislações, e do poder público, uma vez que a escola já está desacreditada, e a cultura familiar no Brasil da imensa maioria, é não se importar com o andamento dos filhos na escola. Já que o PBF, é tão popular, porque não usá-lo como forma de atrair os pais a escola na solução de conflitos e vandalismos? Na construção da identidade dos alunos.
Vivemos em um país cujos pais não querem participar da educação dos filhos. Cabe ao estado, o poder público e a escola, criar mecanismo que “obriguem” o pais a participarem da educação dos filhos. De forma eficaz e eficiente.
Sem lei, sem pátria, sem democracia. A vontade do povo não pode ser superior a manutenção da ordem, e parece que a liberdade pregada por muitos teóricos pretende estar acima da lei e estabelecer uma anarquia educacional. Sem limites, não há construção do saber, somente baderna e desordem. E neste caso, cabe a responsabilização dos pais, por tais atitudes, para que os conceitos morais e éticos ensinados na escola chegue até a família e prossiga. A luta pela democracia, passa pela descoberta de erros que precisam ser corrigidos a longo da jornada. E a liberdade é um elemento democrático ainda não entendido pelos “almofadinhas” teóricos que defendem a liberdade juvenil por meio de legislações mal formuladas enquanto professores continuas levando socos, carteiradas, e ameaçados de morte, pelo simples argumento teórico de liberdade. Isso não é liberdade, é anarquia.
A democracia e a liberdade encontram-se esboçadas nesta etapa de transição como possibilidades históricas. Elas não se efetivam sem luta. FREIRE (1967).
Que liberdade é esta que nega a eficácia e a necessidade de um mentor? Imanuel Kant define a construção da liberdade como a passagem da menoridade para um estado de emancipação, mas não sem tutoria.
O esclarecimento é a saída do homem da sua menoridade de que ele próprio é culpado (p. 11)7. A menoridade é a incapacidade de servir do entendimento sem orientação de outrem; […] significa saber ouvir a voz do próprio entendimento e de servir do teu próprio entendimento (p. 12)7. KANT (
É esta “tutoria”, este “orientador” que tem faltado, pode tudo, não há punição para nada, viva livre, quebre tudo, destrua tudo, mate, use armas, se drogue, não há restrição nem consequencias, tudo é permitido em favor da liberdade do individuo. Não importa quantos outros sejam prejudicados!
É dever da educação, livrar o homem da sua animalidade, do seu estado primitivo, da sua ignorância. Kant argumenta que esta mudança estabelece a diferença entre homens e animais. A liberdade pregada hoje está construindo animais e não pessoas, e se não houver mudanças urgentes na sociedade, nas legislações, no poder público, mas principalmente nos “teóricos de padaria” – não haverá mais escolas – apenas “zoológicos educacionais”. Onde professor é presa de aluno liberto. Onde professor pode apanhar, ser aviltado e humilhado, e aluno armado, vândalo e drogado é a vitima.
É dever para o ser humano erguer-se da tosca condição de animalidade, através da qual só ele é capaz de estabelecer fins; ele tem o dever de reduzir sua ignorância através da instrução e corrigir seus erros. Para o homem não constitui contradição estabelecer para si mesmo um fim. “O traço específico do conceito de humanidade, e a diferença de animalidade está na capacidade de pôr-se fins” (p. 314) KANT (1996).
Dar liberdade a quem ainda não possui educação de qualidade é anunciar um desastre eminente, e este desastre recai sobre aqueles que deviam ter fornecido educação de qualidade aliado a liberdade. Na falta da educação de qualidade – preconizada na CF/88 – deram liberdade a quem não sabe o que fazer com ela, e com isso, fazem da escola, um covil de delinquentes, que vão a escola mais para “barbarizar” do que para aprender alguma coisa.
A moralização é um resultado da educação de modo a permitir a que o ser humano aja em perfeita harmonia com a lei moral, alcançando liberdade e autonomia; mas será preciso que antes dome as suas paixões. Para aprender a se privar de algo é necessário coragem diante das inclinações. É preciso acostumar-se às recusas e à resistência (p. 82) KANT (1980)
O propósito do homem é desenvolver o que lhe é inerente. Em meios, essas disposições está a disposição para o bem. Tal disposição necessita por sua vez da educação, o que fundamenta o conceito de Kant de que a educação exige do sujeito o ato de ensinar a pensar. A educação é o processo que está totalmente relacionado com a moral; segundo Kant, uma boa educação é precisamente a fonte de onde brota todo bem neste mundo. Kant compreende que a educação tem um aspecto pragmático, transformando-se em um ferramental para a pedagogia. A educação, para Kant, é um instrumental que tem por objeto preservar a vida, buscar a civilização e apontar para princípios morais. RIBEIRO, (2011).
Disto isto, restam as indagações, estes “vândalos” pensam? Raciocinam? Conhecem o resultado de suas ações? A depender das respostas a estas perguntas, surge a proposta de enfrentamento a questão, ser for de forma intencional, cabe ao poder público criar mecanismos de proteção a liberdade dos outros atores envolvidos.
Se este comportamento não é consciente, e estes deliquentes estudantis, apenas vão reproduzindo aquilo que trazem de casa ou constroem por não saber usar a liberdade. Cabe ao educação como um todo, criar meios de oferecer educação de qualidade, para que a formação da idade mental destes alunos, saia do animalesco e passe a ser civilizado. Se Kant podia chamar – ainda que indiretamente – o homem de animal, porque hoje existem tantos argumentos conceituais em relação a termos?
Não pode falar assim, não use esta palavra, não use este conceito, etc. Enquanto isso, os banheiros das escolas estão com vasos e paredes vandalizadas, não pode ter papel higiênico, as torneiras estão destruídas, professores apanham, etc.
Segundo Weber, no mundo desencantado, não há mais valores últimos que referenciam a ação dos homens. Se antes as religiões interpretavam racionalmente o mundo, dando-lhe um sentido, hoje encontramo-nos diante de um vazio. O destino humano está dominado pelas idéias de previsibilidade e de calculabilidade, que pretendem dominar o mundo, repelindo toda e qualquer crença que envolve questões de sentido; repelem qualquer possibilidade de um valor último determinar a situação existencial do homem.
Weber renuncia à ideia de uma melhora global no destino da humanidade, o que o distancia, por exemplo, da crença nas promessas otimistas do Iluminismo. Se é verdade que a ciência possibilita maior domínio do homem sobre a natureza – como pensa Descartes –, também é verdade que o tornou o maior predador dessa mesma natureza e, ao lado do domínio da natureza, propiciou o domínio sobre seus semelhantes.
Weber parte do princípio de que “o carisma entendido como o clinamen (desvio) das regras instituídas burocratizantes, garantindo o desenvolvimento da liberdade que, rompendo com o determinismo inerente a qualquer situação objetiva, abre espaço para o exercício da autonomia”. A partir deste pressuposto, torna-se possível “pensar uma educação que, em vez de se burocratizar e normatizar friamente, rompe e revoluciona, se expande, autocontroladamente, garantindo a autonomia” (p. 28)
Autonomia e Liberdade, sem educação de qualidade é altamente prejudicial a sociedade como um todo, mas quem mais sofre são os professores, as escolas e principalmente o restante dos educando que já conseguiram saber o que fazer da liberdade, e da autonomia, mas que ainda não amadureceram suficientemente para ver seus colegas agindo como animais, e tendem a imitá-los, formando novos delinquentes juvenis estudantis, com aval e proteção do estado.
Que haja liberdade, aliada à educação de qualidade, responsabilização à atitudes erradas. Mas acima de tudo, que haja limites para tal liberdade, em nome de bem comum, da educação, da sociedade, dos professores, mas principalmente dos bons e dedicados alunos pelos quais me debrucei neste texto.
REFERÊNCIAS:
CARVALHO, Alonso Bezerra de. Educação e Liberdade em Max Weber. Ijuí: Ed. Unijuí, 2004 – 312p. (Coleção fronteiras da educação)
FREIRE, Paulo – Educação como Pratica da liberdade, 1967. Editora Paz e Terra.
Kant I. Crítica da Razão Pura. Trad Valério Rohden e Udo Baldur Moosburguer. São Paulo: Abril Cultural; 1980.
KANT I. Sobre a Pedagogia. Trad Francisco Cock Fontanella. Piracicaba: Editora Unimep; 1996.
Kant I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Trad Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural; 1980.
Kant I. Resposta à pergunta: Que é o Esclarecimento. In: Kant I. A Paz Perpétua e Outros Opúsculos. Trad Artur Mourão. Lisboa: Edições 70; 1995.
PASSETI, Edson, Acessado em http://www.cedap.assis.unesp.br/cantolibertario/textos/0124.html
RIBEIRO A. Sergio et. e tal. Educação para a liberdade – uma perspectiva kantiana – 2011
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